Pra andar na corda bamba precisa de corda de segurança. Foto minha, 2015. Av. Sumaré, São Paulo - SP
o negócio do improviso é que tá presente em toda parte da nossa vida. viver é um grande improviso. (eu também costumo falar que viver é brega, e acho que são frases/bordões complementares).
andar na rua, ir no mercado, interagir com as pessoas e o ambiente ao redor envolve muito improviso: presença, atenção, jogar com o que está sendo colocado, reagir no momento.
um carro tá vindo na sua direção: você corre ou para e é atropelado, ou você desvia; são muitas opções e você tem que lidar com o fato objetivo que aquilo está acontecendo naquele instante.
muita gente tem ansiedade de sair de casa, e eu entendo. na reabertura pós vacina da pandemia (que tá torando de novo, que inferrrrrrnooooo), eu tive muito dessa ansiedade de sair e de me relacionar com as pessoas: o que eu falo? como é ver alguém de corpo inteiro? cadê o botão de mute? o que é falar com outro ser humano??? eu desaprendi sos.
fui reaprendendo, na prática, que costuma ser uma grande aliada, e com ela aprendendo também a cozinhar.
existem muitos jeitos de cozinhar: seguindo a receita à letra, fazendo tudo de cabeça, juntando tudo pra ver no que dá ou usar uma receita como base e depois ir ajustando conforme o caminho. é o meu estilo.
que tem a ver demais com a presença, com a intuição e confiar no seu rolê.
peço licença pra citar minha namorada, que também acumula as funções de editora e revisora dessa news: “O mais doido é que improvisar é uma coisa que eu não me sinto 100% confortável fazendo em outros contextos”
mas a chave do negócio é que improviso tem TUDO a ver com contexto. Estar segura nele para experimentar, além da vontade de tentar. Senão, não tem improviso que se sustente.
quando eu danço, não sei qual será meu próximo movimento, mas tenho algumas balizas claras: a música, o ritmo, meu conhecimento básico daquele estilo (importante diferenciar um axé de um tango) e o quanto consigo me mexer a partir de tudo isso. a música não espera você pensar na coreografia - ela vai, e você segue respondendo a ela com seu corpo. Somo a isso tudo a observação: vou olhando e copiando as pessoas ao redor, na caruda. (Mentira, tem vezes que tento disfarçar e faço aquele passo depois, quando a pessoa já tá fazendo outro. Pra não ficar chato.)
eu danço desde sempre, sempre amadora mas amando a dança, e já fiz aulas de vários estilos aleatórios. pra mim, a festa e a dança são lugares de conforto, mesmo que não saiba nada sobre um estilo específico. Se alguém quiser me ensinar, eu vou, mesmo que não seja perfeito.
e o negócio do improviso também é se liberar da perfeição ou do ideal que você cria na sua cabeça: é impossível de cumprir, porque você não sabe o que vai acontecer.
mas só possível se abrir pro desconhecido com alegria se você tem uma medida de conhecido ali.
pra arriscar novos movimentos, é importante ter uma base naquele território, antes de explorar novos postos distantes. é a diferença entre você desenrolar altas conversas com amizades próximas mas não com as novas: tem um lugar de intimidade ali que é essencial para poder deslanchar. Um trampolim pra poder pular.
é um paradoxo, talvez, mas é preciso ter um pouco de conforto pra poder ficar desconfortável: não dá pra aprender a andar na corda bamba sem rede de proteção.
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Pra quem gosta de música e improvisação:
o jazz é a linguagem do improviso por excelência (se não for, me fala porque tô espalhando essa frase por aí há anos). Uma pessoa essencial do improviso e da voz, pra mim, é o Bobby McFerrin. Ele ficou bem famoso com essa versão de Don’t Worry, Be Happy do Bob Marley.
Olha ele aí!
O homem conversa com piano, improvisa com outro cara foda que nem ele, o Joey Blake, canta Ave Maria, do Bach com um coral que é de arrepiar.
e por último e mais importante: ele faz música COM O PÚBLICO. isso pra mim é o auge, e nunca deixa de me encantar.
não importa quantas vezes eu veja: é um maestro, e as pessoas e suas vozes são seus instrumentos. ao vivaço, na hora, sem roteiro. escutando e reagindo e retrabalhando. muita técnica e muita percepção. coisa de mestre.
é lindimais: Bobby McFerrin leads the audience in circlesong
Errata: sequelei DEMAIS e numerei o último texto como 6, sendo que já era o 7. as coisas passam rápido e me perdi. o pior é que tenho uma planilha justamente pra isso não acontecer, mas acontece. seguimos.
Prestação de contas: falei que ia falar da FLIP, mas vi tanta news sobre o tema, sendo um grande resumo da experiência que não me deu vontade de fazer igual, simples assim kk. tenho tanta foto que nem escolhi alguma pra postar. quando eu postar você vai ver, me segue no @luisa.com.acento
foi muito transformador para mim, de verdade, e me ajudou a pensar e criar planos pra essa trajetória de escritora que estou trilhando. Mas não quis transcrever meu stories de viagem rs. então tô deixando maturar e tô a matutar. Uma hora esse tema volta, e vai aparecer por aqui.
Você leu tudo, brigadão! Como é sua relação com o improviso? Ou o que você quiser comentar, o espaço é livre.
(Você também pode responder a esse post e ele vai direto pro meu e-mail, mas o comentário estimula discussões e outras pessoas a comentar, o que é bem legal)
Luísa Guimarães é atriz e diretora, e tenta se convencer que é artista. Tá aprendendo a ser escritora com uma newsletter, porque escrever é fácil, o difícil é mostrar pros outros.