é difícil falar comigo mesma,
por isso eu escrevo.
escrevendo é mais fácil, parece que meu interlocutor (eu) é mais tangível, que é outra pessoa e outra voz falando comigo fora da minha cabeça.
e eu sou mais legal com as outras pessoas do que comigo.
é um pouco de personalidade e um pouco de socialização feminina, de ter que ser agradável, o instinto maternal, o dom de ser anfitriã, priorizar sempre as outras pessoas no ambiente.
então me dou uma chance de ser legal comigo, falando sozinha, pelo menos às vezes, porque também brigo com essa pessoa e xingo, no papel. (na tela, melhor dizendo, mas no papel soa melhor, e a ideia fica mais clara).
me justificar demais também é um ato de auto mutilação intelectual.
acho que a terapia é também uma forma de falar comigo, porque minha terapeuta fala pouco, o que acho bom, e quando fala é bem no ponto do que preciso ouvir, que está ali encoberto, como um pacote que chegou e não quero abrir com medo do que tem dentro.
andando de máscara na rua eu me sentia livre pra cantar junto com a música que eu tava ouvindo, responder o apresentador do podcast, rir abertamente escondida pela máscara. com fone, então, podia fingir estar falando com alguém, em especial quando via alguém se aproximando na rua e não queria ser estranha. organizava em voz alta o que ia fazer depois, o dia, a semana, a vida, o que via ao meu redor.
falar em voz alta consigo mesma, é uma forma de negociar que eu sou e quem posso ser.
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Percebi que escrevo muito a partir de inspirações externas: vejo ou leio algo, sinto uma fagulha, acendo a chama, e corro com a tocha. É o caso desse texto, que surgiu lendo o artigo “The Power of Talking to yourself” (“O poder de falar com você mesmo” na minha tradução), que apesar do título clickbait, me fez pensar e escrever, ou seja, serviu a seu propósito e muito mais. https://www.nytimes.com/2022/07/12/magazine/talking-to-yourself.html (em inglês).
PS: fugindo do meu próprio calendário, a news era pra ter saído ontem, mas estamos aqui hoje, que é o jeito. a sexta de manhã é um dia muito disputado no mercado das newsletters, então deixei pra sexta fim de tarde (sextou!!!). logo mais volto à programação normal - como aprendi no curso da Gaía, consistência é essencial.
Pra quem gosta de design e criação:
Leia a Makers gonna make, que me inspirou a ousar mais nesse texto. A Hele recomendou minha news dizendo uma das coisas mais bonitas que uma artista pode ouvir: que ama ler coisas genuínas. Emocionei né?
Luísa Guimarães Tarzia é atriz e diretora, e tenta se convencer que é artista. Tá aprendendo a ser escritora com uma newsletter, porque escrever é fácil, o difícil é mostrar pros outros.