Li mil coisas maravilhosas sobre o Dia Internacional de Luta das Mulheres. Reflexões de ângulos diversos que me emocionaram, tocaram, incomodaram, acalentaram e seguem reverberando pro resto do ano.
Afinal, o dia da mulher é todo dia, não é?
Me alegra a nível pessoal que eu mantive meu calendário de atividades e estou lançando essa edição depois da data - não tenha corrido para escrever no dia 8, sabendo que não ia dar, só pra cumprir tabela. Também é uma forma de não me misturar ao ruído de tanto post corporativo e parabéns falsos, além de me dar a chance de fugir (de leve) do ritmo urgente das datas comemorativas. Por que não seguir na reflexão?
A escritora e cartunista Bruna Maia fala muito no Instagram e em seus livros sobre female rage, ou raiva feminina, e foi meu primeiro contato com esse termo em inglês.
Pra que um termo se é óbvio que vivemos com raiva? Se não à superfície, borbulhando sob a máscara da resignação, da autoproteção, da rejeição, do sorriso constrangido-conciliador e até das palavras de aceitação que dizemos para parar ou subverter ataques diários.
Obviamente falo só das chamadas microagressões, as outras precisam de diferentes estratégias de sobrevivência.
A raiva que não nos permitimos sentir sai pela tangente como lava de vulcão: espocando pra todo lado e soltando fumaça, densa, que nubla a visão. Corram! Ela diz, mas quem ouve somos nós, que corremos do confronto, da verdade, de estabelecer limites, do não que nunca é reservado aos outros, afinal, temos que acomodar todo mundo. Como sua mãe já falou, você não é todo mundo, então tá fora dessa lista. Que pena!
Os primeiros trens eram movidos a vapor. O problema é que o vapor que sai das suas orelhas não se transforma em energia motriz: ele se dissipa e não movimenta nada. O vapor se mistura com ar e você perde todo seu fogo.
Transforme a raiva em ação: pule, escreva, dance, se afaste de alguém, grite sozinha, vá embora, não dê satisfação, jogue fora as mesquinharias, aceite que seu ódio existe e use a seu favor.
Dicas utilitárias, eu sei, mas numa sociedade que nosso valor é medido pelo capital de trabalho, trabalhe por você e não para conter, antecipar e resolver todas as variáveis. Tome a raiva como carvão do motor do seu trem e corra!
Corra em direção a algo, não só fugindo de alguma coisa.
Viva as mulheres raivosas que mudam vidas. Comecemos pelas nossas.
cartas que não envio
meus silêncios são todos de raiva.
a dor, a tristeza, o arrebatamento, a alegria, a dúvida
compartilho todos.
a raiva é filha
única e me toma toda
a atenção.
ela é calada ou se cala
em toda ocasião.
mapeei brigas imaginárias
contra inimigos reais ou ataques possíveis
na rua, em casa, no trabalho, no sonho
eu sei tudo o que eu diria em uma briga e ganharia todas elas.
mas não brigo.
minha raiva tem nome, cara, sotaque, pele, altura, peso.
se eu escrevesse cartas para quem me enraivece
elas chegariam todas no seu endereço.
- Luísa Tarzia
Sou uma escritora publicada, Brasil!!!!
Falei que meu livro saía esse ano né? Pois é, ainda não kkkk, mas tenho uma novidade maravilhosa:
saí na Coletânea de Poetas Brasileiros Contemporâneos (Vol. II) da Editora Persona!
Você pode comprar o livro aqui, em pré-venda. Você vai encontrar meu poema Mulher caracol, por quem eu tenho muito carinho :)
Para ler mulheres debochadas e raivosas:
Bordados, da Marjane Satrapi
Se você leu Persépolis, já conhece a autora e quadrinista iraniana. Esse livro é mais curto e passeia pela alegria, tristeza, rancor e humor, alinhavado com muita ironia, pelas histórias familiares de mulheres no Irã.
Ódio, Fúria e Cólera: Um manifesto FEMALE RAGE em poesia - Bruna Maia. Gratuito para quem tem Kindle Unlimited. Para se aventurar mais no tema, que estou começando a conhecer, e porque quero ter sempre uma indicação de poesia por aqui.
O pessoal do grupo de Newsletters BR no Telegram se organizou para publicar sobre esse Mês das Mulheres. Perdi de leve o bonde, mas foi essa movimentação que me botou pra falar do tema e me apresentou muitos textos legais. Obrigada pelo estímulo de sempre!
Luísa, as mulheres vão mudar o mundo, será melhor do que é hoje.
Parabéns pela publicação do seu poema!
Vc é meu trenzinho ♡ às vezes maria fumaça, às vezes trem-bala, mas sempre movimentando tudo do seu jeitinho